“Apesar dos avanços, a mulher ainda tem um longo caminho pela frente para ser igualmente reconhecida, tal qual os homens, por sua competência e eficácia. Seja como mãe, como trabalhadora, como qualquer ocupação que tenha”, ressalta o médico psiquiatra Júlio Dutra, presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ). De acordo com o psiquiatra, a construção social do papel da mulher está muito ligado às épocas. “Antigamente, alguns costumes e práticas eram inaceitáveis, como o divórcio e o uso da pílula anticoncepcional. Hoje, isso é diferente.”
Para o especialista, não é bom nenhum dos extremos: nem aquele que glorifica a hipermasculinidade tampouco o que idolatra a mulher mártir que se sacrifica, submissa ao homem. “Na sociedade contemporânea em que vivemos, os papeis são divididos não conforme o gênero, mas, de acordo com a necessidade de cada família ou de cada núcleo familiar”, explica. Segundo Júlio Dutra, é importante demonstrar, no processo de socialização e no convívio social, principalmente no mercado de trabalho, que não existe “coisa de homem ou coisa de mulher”.
O que precisa ser desmistificada é a ideia de que a mulher é a única responsável pelos afazeres domésticos. “Em muitas configurações familiares, a mulher acumula as funções do trabalho e de casa, incluindo a materna, o que a sobrecarrega. O homem também precisa contribuir. E, no mercado de trabalho, as mulheres continuam ganhando menos que os homens, o que também não está correto”, diz. A desigualdade salarial chega a 20,5% no Brasil.
Há muitos desafios pela frente, apesar dos tantos avanços. “Nós, psiquiatras, acreditamos que lutar pela valorização da mulher contribui para a solubilidade da saúde mental social, o que mantém um equilíbrio entre os gêneros e uma convivência harmônica. Se outrora foi necessário lutar por direitos, hoje é preciso combater o pensamento machista, melhorar os salários das mulheres e permitir um direito efetivo delas sobre o próprio corpo, a partir de uma nova e necessária liberdade individual”, avalia o psiquiatra.
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