Uma forma do gene da apolipoproteína E (APOE), que desempenha papel chave no metabolismo de lipídeos, participando do transporte de colesterol das células, é um dos principais fatores genéticos reconhecidos para a predisposição ao desenvolvimento da demência
Segundo o geneticista, APOE é produzida principalmente no fígado e é integrante do HDL, VLDL e quilomícrons. “A APOE é codificada pelo gene APOE, que atualmente é um gene fundamental, tanto em termos de longevidade como envelhecimento e é associado a maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Além disso, o genótipo da APOE tem sido fortemente associado a doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Alzheimer, e outras doenças associadas à demência”, explica o Dr. Marcelo Sady. Segundo o estudo, a forma APOE4 é a que representa um dos mais altos fatores de risco para a demência. “Cerca de 25% das pessoas carregam uma cópia do APOE4 e 2 a 3% carregam duas cópias. APOE4 é o gene do fator de risco mais forte para a doença de Alzheimer, embora herdar APOE4 não signifique que uma pessoa irá desenvolver a doença definitivamente”, explica o geneticista.
O gene APOE apresenta 3 alelos principais: E2, E3 e E4. “O alelo E4 é disfuncional e é o maior biomarcador genético de risco aumentado de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Estudos clínicos e em autópsias, realizados em populações europeias, tem demonstrado que o risco de demência aumenta com a presença de uma cópia do alelo E4 ou duas cópias quando comparados aos portadores do genótipo E3. Ao contrário, o alelo E2 do gene APOE pode apresentar efeito protetor contra a demência”, diz o Dr. Marcelo Sady.
A razão pela qual o APOE4 aumenta o risco de Alzheimer não é bem compreendida. A proteína APOE ajuda a transportar o colesterol e outros tipos de gordura na corrente sanguínea. “Estudos recentes sugerem que problemas com a capacidade das células cerebrais de processar gorduras, ou lipídios, podem desempenhar um papel fundamental no Alzheimer e doenças relacionadas. Os desequilíbrios lipídicos podem prejudicar muitos dos processos essenciais de uma célula. Isso inclui a criação de membranas celulares, movimentação de moléculas dentro da célula e geração de energia”, explica o geneticista.
De acordo com o especialista, as descobertas genéticas e o papel dos alelos de risco na predisposição de doença podem ajudar a modular a expressão desses genes. “Portadores do alelo E4 são sensíveis à ingestão de gordura saturada maior que 10% da energia total, que tem sido associado com maior risco de neuroinflamação e consequente maior risco de Alzheimer. Portanto, o simples fato de limitar o consumo de gordura saturada a 10% ajuda a minimizar o risco de Alzheimer”, explica o geneticista. Outras pesquisas mostraram que a suplementação da cultura de células de levedura com colina restaurou o metabolismo lipídico normal. A colina é necessária para sintetizar os fosfolipídios. “Além disso, atividade física, restrição calórica, adequados níveis de vitamina D, e o consumo de curcumina ajudam a minimizar mais ainda o risco de desenvolvimento de Alzheimer”, finaliza o geneticista.
FONTE:
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.