Estudo com dados de pacientes britânicos cruzou a gravidade da Covid-19 com hábitos alimentares para concluir que severidade dos casos tem relação também com alimentação potencialmente inflamatória
Embora o fator nutricional possa teoricamente impactar a suscetibilidade à Covid-19, poucas investigações testaram especificamente a hipótese. O baixo nível de vitamina D está associado à infecção, gravidade e mortalidade pela doença, segundo estudos; alto consumo de álcool e menor consumo de café e chá foram associados à gravidade da doença também.
Na investigação pela base de dados britânica, os pesquisadores concluíram que o consumo habitual de 1 ou mais xícaras de café por dia foi associado a uma redução de cerca de 10% no risco de Covid-19 em comparação com menos de 1 xícara/dia. “O café não é apenas uma fonte importante de cafeína, mas contribui com dezenas de outros constituintes; incluindo muitos implicados na imunidade. Entre muitas populações, o café é o principal contribuinte para a ingestão total de polifenóis, em particular os ácidos fenólicos. Café, cafeína e polifenóis têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, de forma que o consumo de café se correlaciona favoravelmente com biomarcadores inflamatórios, como PCR, interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral α (TNF-α), que são também associados à gravidade e mortalidade de Covid-19. O consumo de café também foi associado a um menor risco de pneumonia em idosos”, explica a médica.
No caso das frutas e vegetais, explica a Dra. Marcella, elas são fontes dietéticas ricas em vitaminas, folato, fibra e vários fitoquímicos, como carotenóides e flavonóides. “Essas substâncias têm propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas e antivirais e, portanto, são imunoprotetoras. No estudo atual, o consumo de pelo menos 0,67 porções por dia de vegetais (cozidos ou crus, excluindo batatas) foi associado a um menor risco de infecção por Covid-19. Estudos ecológicos recentes do Covid-19 relatam que países com alto consumo de alimentos com atividade antioxidante potente ou antienzima conversora de angiotensina (ACE), como repolho cru ou fermentado, têm uma taxa de mortalidade por Covid-19 mais baixa em comparação com outros países”, explica. Segundo os pesquisadores, estudos de vegetais e alimentos fermentados relataram que cada aumento de grama por dia no consumo médio nacional de repolho, pepino ou vegetais fermentados diminuiu o risco de mortalidade para Covid-19 em 11 a 35%.
Já o consumo de carne processada de apenas 0,43 porções/dia foi associado a um maior risco de Covid-19 no UK Biobank. No entanto, o consumo de carne vermelha não apresentou risco, sugerindo que a carne não processada não está relacionada a casos graves. “Carne processada refere-se a qualquer carne que foi transformada por meio de salga, cura, fermentação, defumação ou outro processo para realçar o sabor ou melhorar a preservação”, explica a médica nutróloga. Salsichas, bacon e presunto são os principais contribuintes para a ingestão de carne processada e geralmente contêm sal enriquecido com nitratos e/ou nitritos. Conservantes e outros aditivos estão sendo usados cada vez mais, embora sejam difíceis de medir em estudos observacionais. “Carnes processadas também são características de uma dieta de estilo ocidental, o que pode afetar adversamente a imunidade”, explica a médica. “Apesar da limitação do estudo, como não ter dados simultâneos de pandemia sobre outros fatores de risco estabelecidos (distanciamento e uso de máscaras), esse é um trabalho importante para pensarmos em incluir vegetais e café na dieta, e principalmente limitar o consumo de carnes processadas, com o objetivo de melhorar a imunidade”, finaliza a Dra. Marcella.
FONTE:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. CRM-PR 12559 e RQE 16019.